Nascida em Recife, Rayana Rayo, artista visual autodidata, iniciou sua produção artística em 2015. Em 2017, montou seu atelier no Edf. Pernambuco, se dedicando integralmente ao desenho e experimentando técnicas de tinta, lápis, colagens e bordados sobre papel. Em setembro do mesmo ano, mudou-se para Fortaleza e fez de sua casa seu espaço de criação, aperfeiçoando sua pesquisa inicial e focando em técnicas mistas de tinta acrílica e lápis de cor sobre papel. No começo de 2018, criou suas primeiras telas em acrílica, fechando mais um ciclo de experimentações.
PEDRA-DE-RAIO,
que dá título à exposição, é um dos termos populares para os fulguritos, também conhecidos por pedra-de-corisco, ou filhos do trovão. Fulgurito é o material formado pelo encontro de um raio com o chão. A altíssima temperatura da descarga elétrica derrete e funde as partículas de areia e o seu desenho portanto mostra a trajetória que o raio seguiu ao se dispersar no solo, motivo pelo qual estes sólidos também são conhecidos como relâmpagos fossilizados.
começa num formigamento nos dedos das mãos. das mãos partem raios que quando tocam as partículas de areia cristalizam esse encontro em massas moles, pedaços sólidos, geometria irregular. em dois mil e sete o inpe registrou o novo recorde de velocidade de um relâmpago, que viajou cerca de 198km num segundo. é como ir de recife a fortaleza exatamente 3,93 vezes. é como ir, voltar, ir de novo e por milésimos de segundos quase poder voltar. mas o desenho que o feixe de luz deixa marcado no céu sempre pareceu sugerir uma espécie de lentidão. como quando o flash de uma câmera fotográfica encontra nosso olhar e deixa registrada uma mancha escura na retina que permanece ainda algum tempo antes de desmanchar. tempo suficiente, porém, para que a nitidez dos rostos que olhamos seja desafiada. tempo suficiente para que possamos duvidar dos limites e da impermeabilidade entre real e invenção.
Rayo quando acontece, fazendo a passagem entre céu e terra ou entre céu e mar, forma esses labirintos de volumes e suas ramificações, como o desenho de um rio que se dissolve em afluentes, ou uma rodovia que contorna uma montanha e instaura uma nova forma de calcular distância ou estudar geografia.
o corpo que desenha é uma ponte que media essas passagens: entre estados físico-químicos, entre sólidos regulares e irregulares, entre duas ou mais perspectivas, entre dois pontos de fuga. mudar de casa, de cidade, de direção. num papel de gramatura rochosa descontinuar a linha, caminhar com ela, esticá-la até que se perca num labirinto entre as dimensões.
existe essa palavra multidimensional?
soubestes daquela cidade à beira-mar que há alguns anos atrás sofreu uma inundação? a ponte que nos ligava a ela se encontra hoje parcialmente submersa. abaixo dessa linhalimite o som não chega da mesma forma, nem a luz e isso tem a ver com as leis da refração. a luz quando toca a água se torna quase sólida, origami dourado dançando ora contra a correnteza ora a favor. compõem hoje a paisagem da ponte que um dia foi de concreto: tons ocres, lôdo, marrom e a cor do céu visto debaixo do mar.
dizem que dentro da barriga, submersos em líquido amniótico, os bebês conhecem a voz da mãe. existe algo que não tem a ver com nitidez ou volume, mas com a frequência do som. nascer deve ser como fazer essa passagem pro lado de lá. e desenhar talvez represente essa força imensa e esse desejo inexplicável de abrir caminho e encontrar uma forma de ir e voltar.
Bianca Ziegler
Endereço: Rua Instituto do Ceará, 164
- Benfica,Fortaleza - CE, 60015-300
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Sexta, 18 de maio às 18:00 – 22:00
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fonte:
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