Foi o pai de Ana Maria Santos, 46 anos, moradora de Rebouças, distante
170 quilômetros de Curitiba, no Paraná, que lhe ensinou o ofício de
benzedeira. Mas ele mesmo pouco benzia, por conta da marginalização
imposta pelas autoridades locais à atividade de cura popular, amálgama
de tratamento espiritual aliado ao uso de ervas medicinais. “É um dom
que a gente tem. Mas não somos nós que curamos, e sim Deus”, afirma a
benzedeira, que atende uma média de 20 pessoas por semana, a maioria
delas crianças com problemas de saúde comezinhos, como micoses, cólicas
abdominais e até “susto” – medo de assombração. Ao contrário do pai, Ana
Maria pode benzê-las em paz, desde que a prefeitura da cidade
sancionou, em fevereiro, uma lei que reconhece o trabalho das
praticantes da chamada saúde popular. Logo depois, foi a vez de São João
de Triunfo, no mesmo Estado, adotar lei semelhante.
São dois casos pioneiros no Brasil. Não por acaso. Nessas duas cidades
foram identificadas 295 benzedeiras pelo Movimento de Aprendizes da
Sabedoria, organização responsável pela aprovação das leis, que chegou a
receber um prêmio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional. O órgão federal já classificou a cura por meios não
tradicionais como um patrimônio imaterial da cultura brasileira.
“Acreditamos que essas iniciativas devem ser adotadas em outras cidades e
Estados, desde que as benzedeiras participem do processo”, afirma Taísa
Lewitzki, uma das coordenadoras do movimento. Agora, as rezadeiras têm
livre acesso a qualquer terreno dos dois municípios paranaenses, mesmo
os privados, para coletar ervas, desde que respeitadas as leis
ambientais. Mas existem aquelas que nem precisam sair de casa. “Eu mesma
planto no meu quintal mais de 40 plantas medicinais”, diz a benzedeira
Agda Andrade, 57 anos.
Para a antropóloga Geslline Giovana Braga, da Universidade Federal do
Paraná, a legislação aprovada nos dois municípios carrega, sobretudo,
força simbólica. “Mostra que as benzedeiras não estão desaparecendo. Eu
jamais ouvi benzedeira alguma proibir o uso do remédio ou suspender um
tratamento médico, pelo contrário”, afirma Geslline. Essa realidade de
preconceito começa a mudar aos poucos. Estados como Ceará e Rio Grande
do Norte estudam também reconhecer a chamada saúde popular. No município
cearense de Maranguape, inclusive, médicos do Programa Saúde da Família
atuam em conjunto com as rezadeiras no combate à mortalidade infantil,
com resultados satisfatórios.
Fonte:
http://www.istoe.com.br/reportagens/210785_PROFISSAO+BENZEDEIRA
Video: Bom Dia Ceará - TV Verdes Mares - Sempre Informando a Comunidade
Dia: 19/07/2012
Rezadeiras no Posto de Saúde do Jardim Guanabara - Fortaleza