O MAUC E A ARTE NO CEARÁ
A criação de uma Universidade é uma vitória do Iluminismo. O Ceará esperou, até 1955, para ter um centro de ensino, pesquisa e extensão. A Universidade veio no bojo de uma luta maior, pelo desenvolvimento. Circulava a ideia de que as novas instituições seriam responsáveis por uma ação cultural como nunca se tinha visto.
Logo, o Reitor Martins Filho iniciou a criação de uma coleção de artes, embrião de um futuro Museu. Investiu-se para se ter o acervo que se tem, valioso, do ponto de vista histórico, afetivo, e também, de mercado.
Raymundo Cela foi o primeiro cearense a conquistar um prêmio de viagem ao exterior, em 1919. A ruptura com o academicismo, proposta da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), trouxe uma geração independente e implantou o modernismo entre nós. Antônio Bandeira viveu em Paris e se alinhou com o abstracionismo lírico. Aldemir Martins, desenhista, pintor e gravador de Ingazeiras (Aurora), chegou a São Paulo, depois de conquistar espaço em Fortaleza. Vicente Leite morreu aos 40 anos, sem usufruir o prêmio de viagem ao exterior que ganhara.
O suiço Chabloz descobriu Chico da Silva a grafitar muros na praia, em Fortaleza. Assim, o índio do Acre passou a nos deslumbrar com suas cores e seus animais míticos. O mesmo Chabloz pintou os cartazes que levaram “soldados da borracha”, na marcha e fixação na Amazônia.
Estava formado o núcleo que daria respaldo ao Museu de Arte, inaugurado em junho de 1961. Antes, foram enviados emissários (Floriano Teixeira, Lívio Xavier Jr e Sérvulo Esmeraldo) ao Cariri, para a aquisição de xilogravuras, de santos e de cerâmicas.
O “Universal pelo Regional” se fez recolha “folk”, com peças de Noza, Walderêdo, Antonio Batista e na coleção estrangeira, que inclui Picasso, Miró, Soulages, heliogravuras de Dürer e Rembrandt.
O MAUC é um marco na arte cearense. Com ele, aprendemos a fazer exposições, a valorizar o acervo (com as salas especiais de Cela, Bandeira, Aldemir e Chico da Silva), e a ter um centro de pesquisa, de animação cultural, e de chancela da criação artística.
O que se fez de mais representativo nas artes no Ceará, nos últimos cinquenta anos, passou por estes salões, que foram se expandindo, ao longo do tempo, mantendo o espírito crítico, a coerência com o cânon, a possibilidade da transgressão, a recusa aos modismos, e a saudável subversão da ideia de gosto, e das categorias que se colocam, ainda hoje, de popular e erudito, de tradicional e contemporâneo.
O MAUC tem a coleção de artes mais importante do Ceará, em processo de tombamento pelo IPHAN nacional, e se inclui entre os museus universitários mais importantes do País. Trata-se de uma conquista nossa, e um patrimônio de nosso povo.
Devemos ter orgulho dele e vê-lo como uma ideia em movimento, como um processo (daí a importância da sala Descartes Gadelha), e não como apenas uma coleção que se guarda com seguranças, câmera e vidros blindados. É um privilégio de todos e não um deleite de poucos.
O MAUC é tudo isso: um acervo, uma intenção de interferir, uma recolha de documentos e uma biblioteca essencial. É o triunfo do espírito republicano, que só poderia mesmo vigorar em uma Universidade pública, gratuita e de qualidade.
Gilmar de Carvalho
http://www.mauc.ufc.br/expo/2011/03/index1.htm
Exposição comemorativa do cinquentenário do Mauc
A criação de uma Universidade é uma vitória do Iluminismo. O Ceará esperou, até 1955, para ter um centro de ensino, pesquisa e extensão. A Universidade veio no bojo de uma luta maior, pelo desenvolvimento. Circulava a ideia de que as novas instituições seriam responsáveis por uma ação cultural como nunca se tinha visto.
Logo, o Reitor Martins Filho iniciou a criação de uma coleção de artes, embrião de um futuro Museu. Investiu-se para se ter o acervo que se tem, valioso, do ponto de vista histórico, afetivo, e também, de mercado.
Raymundo Cela foi o primeiro cearense a conquistar um prêmio de viagem ao exterior, em 1919. A ruptura com o academicismo, proposta da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), trouxe uma geração independente e implantou o modernismo entre nós. Antônio Bandeira viveu em Paris e se alinhou com o abstracionismo lírico. Aldemir Martins, desenhista, pintor e gravador de Ingazeiras (Aurora), chegou a São Paulo, depois de conquistar espaço em Fortaleza. Vicente Leite morreu aos 40 anos, sem usufruir o prêmio de viagem ao exterior que ganhara.
O suiço Chabloz descobriu Chico da Silva a grafitar muros na praia, em Fortaleza. Assim, o índio do Acre passou a nos deslumbrar com suas cores e seus animais míticos. O mesmo Chabloz pintou os cartazes que levaram “soldados da borracha”, na marcha e fixação na Amazônia.
Estava formado o núcleo que daria respaldo ao Museu de Arte, inaugurado em junho de 1961. Antes, foram enviados emissários (Floriano Teixeira, Lívio Xavier Jr e Sérvulo Esmeraldo) ao Cariri, para a aquisição de xilogravuras, de santos e de cerâmicas.
O “Universal pelo Regional” se fez recolha “folk”, com peças de Noza, Walderêdo, Antonio Batista e na coleção estrangeira, que inclui Picasso, Miró, Soulages, heliogravuras de Dürer e Rembrandt.
O MAUC é um marco na arte cearense. Com ele, aprendemos a fazer exposições, a valorizar o acervo (com as salas especiais de Cela, Bandeira, Aldemir e Chico da Silva), e a ter um centro de pesquisa, de animação cultural, e de chancela da criação artística.
O que se fez de mais representativo nas artes no Ceará, nos últimos cinquenta anos, passou por estes salões, que foram se expandindo, ao longo do tempo, mantendo o espírito crítico, a coerência com o cânon, a possibilidade da transgressão, a recusa aos modismos, e a saudável subversão da ideia de gosto, e das categorias que se colocam, ainda hoje, de popular e erudito, de tradicional e contemporâneo.
O MAUC tem a coleção de artes mais importante do Ceará, em processo de tombamento pelo IPHAN nacional, e se inclui entre os museus universitários mais importantes do País. Trata-se de uma conquista nossa, e um patrimônio de nosso povo.
Devemos ter orgulho dele e vê-lo como uma ideia em movimento, como um processo (daí a importância da sala Descartes Gadelha), e não como apenas uma coleção que se guarda com seguranças, câmera e vidros blindados. É um privilégio de todos e não um deleite de poucos.
O MAUC é tudo isso: um acervo, uma intenção de interferir, uma recolha de documentos e uma biblioteca essencial. É o triunfo do espírito republicano, que só poderia mesmo vigorar em uma Universidade pública, gratuita e de qualidade.
Gilmar de Carvalho
http://www.mauc.ufc.br/expo/2011/03/index1.htm
Exposição comemorativa do cinquentenário do Mauc
22 de junho a 11 de novembro de 2011
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